" E é talvez esse mistério que o torna tão inexoravelmente indeclinável: o facto de ser igual e diferente para toda a gente, limitado e infinito, sagrado e sacrílego, húmido e doce, suado e bestial, lúcido e insano, extenuante e sempre insuficiente. É redentor constatar, embora no dia seguinte nos repugne admitir, que fomos capazes de beijar, abraçar e apertar, com devoção, pessoas que nos são estranhas, pessoas que não são nossas. E mesmo a mais ardente das entregas, e mesmo a mais crua das palavras, por muito viciosa ou sórdida que pareça, tem sempre a sua candura própria, uma raiz infantil, uma qualquer razão que, a ser vital, nunca poderia valer nem mais nem menos do que a razão em si. E, em última análise, estaremos sempre credores dos seus poderes terapêuticos, energéticos, profilácticos, alquímicos. Também porque o sexo gera gente de carne e osso, primeiro pequena e depois grande, ou primeiro grande e depois pequena, que é outro dos seus mistérios, mas não o maior: o maior são as pulsões, a inspiração renovada pelo bater do coração, a fusão da alma com o espírito e com a inteligência artesanal das festas que se fazem, o pudor e a libertação, os dois ou três esconderijos do corpo que nos permitem encontrar o belo no grotesco, a mágoa na violência, a ternura na pressa, e adorar tudo isso da mesma forma cerimoniosa e aos poucos e poucos voraz.
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E nem o amor consegue cegar tanto!
O sexo é o abandono, a rendição, as pazes com o mundo e com nós mesmos, a companhia, o perdão e a desforra sem propósito de vingança, o paradoxo da posse descarada ou da prepotência máxima que nem sempre faz vitimas e às vezes até consola.
É tão grande, e é tão mágico, e é tão profícuo, que através dele aprendemos a amar, a estimar, a ler, a conhecer, a compreender e a perdoar a imperfeição do mundo, a fragilidade das pessoas e sobretudo a nossa, e só por isso vale o que vale: vale-nos.
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Porque é de certeza aquele o quadro mais belo, o soneto mais perfeito, a ária mais sublime, o livro mais grato.
Embora seja ainda mais do que um quadro, porque se pode tocar a pele das figuras da tela, mais do que uma ária, porque, se encostarmos a cabeça com cuidado, podemos escutar distintamente o coração dos músicos, e até mais do que um livro, porque, não tendo letras nem enredo nem estampas, é nele que estão todas, ou quase todas, as respostas da vida. "
Rita Ferro
Já que ontem entrei nestes caminhos de falar sobre sexo e amor, hoje decidi postar esta passagem do magnífico livro "Uma mulher não chora" de Rita Ferro.
Que mais se pode acrescentar?
Acho que nada podia estar mais acertado, é mesmo no sexo, quer queiramos quer não, que nos entregamos por completo, que descobrimos mais de nós e entendemos os outros. É uma aventura. Na cama, só queremos ter ao nosso lado uma pessoa que nos queira. Sentirmos que somos desejados de uma forte maneira, que saciamos o prazer do nosso companheiro, que tudo o que possa ser dito e que todas as caricias, os movimentos são sinceros. No sexo não há o que esconder. Ele faz-nos fazer coisas que com a nossa perfeita consciência, que se não estivéssemos naquela entrega de desejos, de vontades, nunca conseguiríamos fazer.
Acrescentando que sexo é vida!
2 comentários:
Concordo plenament. Faz bem e tudo e tudo e tudo... mas para mim, no meu ponto de vista, eu gosto do AMOR. =) k palem disso td k o sexo tem, tb tem tds os sentimentos a flor da pele, e torna tudo numa simples magia, como um conto de fadas. =)
adorei o texto =)*******
Lindo Texto
Preciso ler esse livro
Passei para ler e apreciar seu belo blog
Beijocas
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